quarta-feira, dezembro 18, 2002

Abrindo o livro

E já que esse blog é um livro aberto (mesmo trazendo segredos em entrelinhas), vamos lá falar um pouquinho do que está havendo aqui dentro e lá fora.

Sexta-feira, dia 29/11, foi o meu último dia no trabalho. Saí por opção, antes de completar os três meses de experiência. De fato, foi um empresa com a qual eu não me adaptei. Ainda não sei se os erros foram meus, ou da empresa, ou de ambos. Prefiro acreditar apenas que não deu certo. Não é a primeira vez nem a última que acontece isso no mundo.

O começo foi bom. Mas eu criei muitas expectativas para com a empresa e ela também comigo. Esperavam uma Engenheira de Produção, sendo que eu sou apenas uma estudante do 1º ano de Engenharia. Tudo bem, eu sou uma Técnica formada com 4 anos de experiência profissional na área indústrial. Mas isso não me torna uma Engenheira de Produção. Então, se eu não podia oferecer a eles o que queriam, eu realmente não me permitia continuar ali. Só deviam ter me avisado antes... Pois no início, disseram que eu tinha o "perfil ideal para o cargo". Bem, eu achava que eles sabiam melhor do que eu sobre a vaga. Mas não foi bem assim.

Admito que a empresa onde eu estava trabalhando serviu de razão para que eu saísse da Cemec. Porque se não houvesse outra proposta de emprego eu ainda estaria lá. E lá simplesmente não dava mais pra ficar. Eu me agarraria na primeira oportunidade que aparecesse... E foi o que fiz.

Bom, então, cá estou eu: mais uma desempregada pra o Lula dá de conta em seu governo. É também verdade que essa folga foi meio que programada por mim. Esse, um de meus erros: arriscar minha sobrevida por um mês de folga... O que garante que em Janeiro eu estarei empregada novamente?

Mas... Águas passadas. O que importa é passar por cima disso e não repetir os erros. Saber fazer melhor as escolhas e aprender a atravessar situações difíceis desse mundo corporativo. E essa lição, creio que aprendi. Bola pra frente...

É que o tempo em casa, sem ter muito o que fazer, me fez pensar bastante sobre mim mesma, sobre meus caminhos, não só os rumos profissionais, mas também e, principalmente, da minha trilha pessoal, particular... Aprender a cuidar de mim mesma. Estipular uma meta, um objetivo de vida e seguí-lo, sabendo apreciar as pequenas vitórias no meio do percurso.

Sem o apego a um trabalho fixo, me sinto livre, vendo portas abertas e diversas oportunidades que posso escolher. Chego a pensar em me mudar de Fortaleza, tentar ganhar a vida em outra cidade. Eu penso assim: "Já que estou procurando emprego em Fortaleza, posso fazer isso em qualquer outro lugar."

É aqui onde entra a viagem que programei para mim neste final de ano. Pretendo ir à Natal. Além de rever os amigos e poder reconhecer a minha cidade, pretendo também sondar a situação da cidade. Como anda a oferta de empregos, como estão as empresas... Enfim. Ver a possibilidade de uma mudança a curto ou médio prazo.

Há também a eterna possibilidade de eu ir para São Paulo, viver uma vida literalmente independente, em busca do sucesso e da superação numa cidade cheia de riscos e instabilidade. Mas... Sentindo o gostinho do que é estar desempregada, sinceramente não queria isso para mim lá em São Paulo. Se for para ir pra lá teria que ser com alguma certeza, com pés no chão. Sem falar que não me sinto pronta, de forma alguma, para ir embora para lá. Não tenho dinheiro suficiente, nem equilíbrio necessário para enfrentar tudo o que poderá acontecer comigo lá. Eu, que já passei por algo semelhante quando deixei Natal para vir morar em Fortaleza, sei muito bem do que estou falando.

E por fim, há a outra possibilidade de me firmar em Fortaleza. Dar continuidade ao que eu comecei a construir aqui. Estudar mais, trabalhar mais, cultivar mais as minhas amizades... E aprender a viver sem a imagem distorcida que faço de tudo o que vejo por aqui. Para ficar, eu preciso aprender a amar Fortaleza.

Natal, São Paulo, Fortaleza... No fim, nenhuma certeza existe. Mas percebo que não importa muito o lugar. Importa eu estar me sentindo bem comigo mesma. Eu tenho que trabalhar dentro de mim primeiro, para poder me sentir apta a cuidar do que está fora de mim.

E nesses dias de auto-reflexão eu abri minha mente, meus olhos e ouvidos e ando pensando... Pensando muito em tudo o que há para fazer.

Então ouvi quatro amigos que me disseram quatro características minhas em quatro conversas diferentes, em quatro dias diferentes. Eu uni o que ouvi e então estou tomando isso por base para criar as tais metas, os tais objetivos. Não é que o que esses amigos me disseram sejam agora leis para mim. Mas o fato é que eu concordei com eles e reconheci durante as conversas que eu ando mesmo errando em alguns pontos. Então devo tratar de me consertar.

Eliézio disse:
Lediana, você como típica pisciana, sonha alto, alto até demais!


Então, talvez se meus sonhos fossem um pokinho mais "baixos" eu poderia alcançá-los... Mas da forma como eu ando sonhando, estou fadada à frustração, porque nunca irei alcançá-los... Por isso eu sei que preciso de mais pé no chão, para poder escolher meus sonhos "realizáveis".

Jorge disse:
Lediana, você é fulgaz.


Ou seja, as coisas que acontecem comigo são muito "de momento"... Por isso eu vivo girando girando e me perco sempre, sem saber para onde estou indo, às vezes... Por isso eu sei que preciso de mais solidez nos momentos que eu esteja vivendo.

Aníbal disse:
Lediana, você não se apega às coisas nem às pessoas porque não gosta de ter que se despedir no fim.


De fato. Essa é uma das piores características que tenho. Desapego. E realmente, eu não me apego é para não ter que sentir saudades. Não gosto da idéia de ter que ir embora, da despedida, e isso me torna indiferente às coisas e às pessoas, para que quando o fim chegue, seja mais fácil para eu superar. Porque eu, depois de 21 anos de estrada (beirando os 22, já) sei que o fim existe, sempre existirá. Mas então isso me impede de viver o momento, de aproveitar e de ser intensa. Apesar de me dizer assim, eu sei que não sou. Na verdade o que eu sinto é um desejo de ser assim, e não consigo ser. Dentro de mim há sempre aquela lembrança de que um dia aquilo irá acabar, então "é melhor ir se acostumando". Sem falar que, de fato, os caminhos que eu escolho traçar sempre são "passageiros" por natureza. E isso casa com a fugacidade que o Jorge comentou. É por isso que eu sei que preciso de situações seguras, para que eu queira me apegar, me envolver.

David disse:
Lediana, um de seus problemas é a sua falta de compromisso.


Pois bem. Posso perceber isso na prática. Mesmo com tempo disponível para estudar, para me ater a coisas importantes ou mesmo para o lazer, eu me ferro nas provas da faculdade mais uma vez, meu curriculum ainda não está atualizado, minha casa tá uma bagunça e meus blogs vivem desatualizados, os livros ainda pendentes para eu ler... Não sei o que me dá. Só sei que não faço nada que deveria ser feito. Então eu sei que preciso de compromisso para tudo o que eu fizer e me comprometer a fazer...

Pé no chão, solidez, segurança, compromisso... No fim, isso tem muito a ver com equilíbrio e estabilidade: a busca de todo indivíduo. Então eu estou me abrindo para essas conquistas. O caminho talvez seja meio doloroso e eu tenha que fazer escolhas difíceis para poder continuar. Talvez eu seja vista como egoísta ao pensar mais em mim e querer cuidar mais de mim... Mas, me dêem licença, eu só estou tentando ser feliz... E isso me purifica.